A pandemia do novo coronavírus e o decorrente isolamento social, com restrições à abertura de empresas de diversos segmentos, deve gerar um prejuízo de mais de R$ 320 bilhões à economia nacional. Conforme um estudo encomendado pela Confederação Nacional de Serviços (CNS), há a possibilidade de que 6,5 milhões de trabalhadores sejam demitidos. Isso apenas no Brasil. Não resta dúvida de que estamos em meio a uma das maiores crises econômicas de nossa história recente, provavelmente o momento mais difícil enfrentado pela humanidade depois da Segunda Guerra Mundial. E a pergunta que todos os empreendedores fazem é: como agir para sobreviver em meio a tamanha dificuldade?
Crises, em geral, exigem cuidados redobrados em todos os aspectos da gestão corporativa. Mas, considerando essa verdadeira hecatombe empresarial que se desenha, é preciso reforçar ainda mais – no limite máximo, por assim dizer – os controles, especialmente no campo financeiro.
Ainda não se sabe até quando a economia precisará operar de forma parcial em decorrência da quarentena. É provável que a imensa maioria das empresas saia da pandemia com menos clientes, menor produção e queda no faturamento – isso para ficar apenas nos principais indicadores.
Em um momento tão delicado, os empresários não podem se dar ao luxo de cometerem erros elementares, como falta de planejamento e de análise financeira. Nessas horas, é comum o dono da empresa, no afã de solucionar problemas no fluxo de caixa, misturar o patrimônio pessoal com o empresarial ou contrair dívidas sem a previsão de receitas para o seu pagamento – equívocos que também podem ser altamente danosos à saúde financeira da empresa.
Agora, o foco deve ser integralmente voltado à organização dos processos gerenciais, com o planejamento de metas, objetivos e planos de ação para colocar a casa em ordem. Neste sentido, o primeiro passo é prever o cenário para o período pós-crise – embora hoje isso ainda exija uma certa dose de futurologia.
Um bom ponto de partida é organizar-se inicialmente para um período de seis meses de operação total ou parcialmente paralisada. Após relacionar todos os itens que compõem suas despesas (aluguel, água, luz, fornecedores, funcionários etc.), calcule o montante necessário para passar por este período sem sobressaltos, procurando evitar a dispensa de colaboradores. Quando as coisas voltarem ao normal – e vão voltar –, eles serão fundamentais para que a empresa volte a operar com todo vigor.
A seguir, tente adequar os gastos à atual situação. Se o escritório não está sendo utilizado, por exemplo, o fornecimento de alguns serviços – como telefone e internet – pode ser temporariamente suspenso. Da mesma forma, os recebimentos de matérias-primas – e os respectivos pagamentos – podem ser protelados para quando as atividades forem normalizadas. Dívidas bancárias podem e devem ser renegociadas.
Além de reduzir as despesas, é fundamental manter algum tipo de receita ao longo da quarentena. Para quem não tem presença online, a crise pode ser o impulso que faltava para a criação de um e-commerce. Se não houver recursos para a abertura de uma plataforma própria, há várias formas de se negociar online, incluindo portais de comércio virtual e redes sociais. Preços promocionais e entrega de produtos em domicílio também são boas estratégias para cativar os clientes em tempos de isolamento.
É quase um clichê afirmar que onde há crise há oportunidade. A sentença pode até ser questionada, mas uma coisa é inegável: é nos momentos de dificuldade que surgem as melhores ideias. É quando buscamos novas soluções para velhos problemas. E é desta forma que se evolui. Então, aproveite a crise para tentar evoluir e fortalecer a saúde financeira de seu negócio.
* Fábio Pajaro, economista e advogado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Fonte: O Estado de S. Paulo – 09/07/2020
Por Fábio Pajaro*