A informação é de todos, serve para todos e principalmente para os indivíduos”.
Começo com essa frase, pois a inovação está em transformar os dados (sim, hoje temos muitos dados de saúde) em informação, essa que deve ser aplicada para nossa saúde e gestão de saúde populacional. Definitivamente, o Brasil não sofre pela falta de dados, e sim pela dificuldade em transformá-los em informação.
Quando falamos de programas de inteligência artificial e medicina não estamos focando somente nos métodos totalmente baseados em probabilidades e algoritmos, como na maioria dos casos. Eles são, na verdade, muito variados: desde lembretes e notificações em tempo real para os profissionais de saúde ou pacientes, apoio da telemedicina, análise de qualidade e desfechos clínicos, resultando em diminuição do desperdício e apoio a eficiência em saúde para a tomada de decisão baseada em informações.
Quem nunca ouviu falar em Blockchain, Big Datas, Dados armazenados nas Nuvens, Internet das Coisas? Mas o que isso tem haver com nossa saúde? Essa é a pergunta que logo vem à mente. Pois não se assuste, isso não é o futuro, já é o presente, e não podemos ter medo do que virá. Precisamos sim nos preparar para o amanhã.
É uma grande responsabilidade envolvida, porque estamos falando da gestão de dados das pessoas, isso é muito sério. É a inteligência de dados aliada a ética, gestão e governança transparente desse processo.
O uso do blockchain na saúde na perspectiva dos pacientes pode ser como exemplo, o prontuário único da jornada do paciente, dados coletados através de nossas atividades de saúde e bem-estar pessoal, diagnósticos, terapias, procedimentos, dispositivos inteligentes, testes genéticos, uso de medicamentos e outras fontes que poderiam ser integradas de forma segura no nosso prontuário digital único, acessível tanto para nós pacientes como para instituições de saúde onde nos tratamos, sempre com a autorização do usuário.
Se hoje nós temos todas as informações da nossa conta bancária nas mãos, nos nossos celulares, porque não ter sobre a nossa saúde. Alguém agora, pode ter feito uma transferência bancária e sabe quanto tem na sua conta corrente. No entanto não possui informações de sua saúde, como quando fez a sua última mamografia, nem de quanto estava o seu colesterol, qual foi a última vez que mediu sua pressão arterial ou se está praticando atividade física regularmente.
Recentemente o Senado Federal aprovou a lei de proteção de dados pessoais, com a nova lei o Brasil fica ao lado de dezenas de países que já têm legislação sobre o tema, como as nações europeias e boa parte da América do Sul. Ao estabelecer direitos e responsabilidades, a lei vai trazer também impactos no cotidiano dos cidadãos, de empresas e dos órgãos públicos. Será proibida a comunicação ou o uso compartilhado entre responsáveis de dados sensíveis referentes à saúde com o objetivo de obter vantagem econômica, exceto nos casos de portabilidade de dados consentida pelo titular. O detalhamento de boa parte dessas regras, direitos e responsabilidades depende da autoridade regulatória prevista no texto. Ela poderá definir parâmetros (como as exigências mínimas de segurança), realizar auditorias, solicitar relatórios de impacto à proteção de dados e será a responsável por fiscalizar e definir possíveis punições.
Contudo, sua criação vem sendo alvo de polêmica.
Felizmente, a tendência é que com o passar do tempo, as instituições devem se abrir mais às tecnologias recentes, para além da chamada “tecnofobia” que existe na área da saúde. Essa resistência a qualquer tipo de tecnologia (que tendem a trazer benefícios) é algo que só vai atrasar o país para o progresso!
A ideia de tecnologias como os sistemas de inteligência artificial são, em sua maioria, propostos para auxiliar os gestores, reguladores, médicos e profissionais de saúde em suas atividades diárias, de maneira moderna e segura. Com menos tempo dedicado às tarefas burocráticas, os profissionais da saúde conseguirão, esta é a melhor notícia, prestar maior atenção aos pacientes, priorizando uma medicina mais humana e, consequentemente, menos custosa. Por essa razão é tão importante discutirmos esse tema, pois tem relação com a sustentabilidade do sistema de saúde.
Superada a dificuldade que existe em transformar dados em informação, existe outra etapa tão ou mais complexa: formular políticas públicas. O desafio para o setor de saúde brasileiro está posto, somente conseguiremos avançar com lideranças comprometidas e diálogo.
Por Humberto Dantas
Fonte: O Estado de S. Paulo – 27/07/2018